28/05/2010

Novo Neo-Realismo?

A Segunda Guerra mundial deixou um rastro de tristeza e pobreza na Europa. Muitas famílias perderam bens materiais, pessoas queridas e a esperança de ter a vida normalizada. Nesta época, o cinema estagnou frente aos imensos gastos com armamento e a destruição generalizada. Quem pensaria em arte quando não se tinha o básico para viver?

Pois foi nesse cenário sombrio que surgiu um dos movimentos culturais mais influentes da história: O Neo Realismo Italiano.

A restrição de orçamento, a falta de pessoal e de infra estrutura fez com que importantes cineastas buscassem uma saída para seus filmes. O foco também foi alterado: era preciso mostrar a realidade e não mais cobrir a película de ideais moralistas.

Luchino Visconti, Vittorio De Sica e Roberto Rosselini são alguns dos brilhantes diretores que utilizaram a criatividade para revolucionar o cinema. Obras como "Roma, cidade aberta", “Ossessione" e " O Ladrão de bicicletas" foram alguns dos expoentes desse movimento. Com a falta de estúdios, os filmes ganharam as ruas e a fotografia era basicamente feita com a luz natural. Além disso crescia a presença de não-atores nas telas.

Sessenta anos depois, em Cannes, um filme uruguaio é prestigiado. "La casa muda" reconstitui os últimos 74 minutos da vida de duas pessoas que foram encontradas mortas em uma casa de campo em 1940.

Poderia ser mais um filme de terror feito aos moldes de Hollywood. Mas não havia dinheiro nem infra-estrutura para realizar o filme dessa forma - apenas 6 mil dólares e não mais que 15 pessoas na equipe. A iluminação utilizada foi praticamente natural (gozando apenas de "duas lanternas e um "foquinho" em cada quarto").

Para gravar, Gustavo Hernández (diretor) emprestou uma câmera fotográfica digital (Cannon 5D) que lhe permitiu ter maior mobilidade para posicionar a lente em lugares não usuais. Além de retratar o tempo da história em tempo real, o diretor também optou por rodar o filme inteiro em uma só tomada.

Depois de dois meses, esse pequeno projeto de quatro dias tomou proporções gigantes. O experimento, resultado das restrições técnicas, foi selecionado para o Festival de Cannes. Uma prova que o importante é a criatividade e boa execução de uma idéia!


               

27/05/2010

Calango 3D

Bom, como já disse, trabalho numa empresa de pós-produção. Em um raro momento de tranquilidade, foi resolvido que criaríamos um vídeo pra brincar com 3d, efeitos e etc. O resultado está aí!

25/05/2010

Stanley Kubrick

Perfeccionismo. Talvez essa seja uma das palavras que melhor descreve o trabalho de Stanley Kubrick. O extremo cuidado com cada elemento da imagem e a fantástica habilidade com a câmera marcaram a carreira deste que se tornou um dos maiores diretores da história.

A vida de cineasta começou cedo. Com 22 anos dirigiu alguns curta-metragens. Aos 25 realizou seu primeiro longa, mas foi aos 28, com "The Killing" (O grande golpe) que Kubrick tornou-se um diretor admirado.

O que poucos sabem é que antes de se tornar diretor, Kubrick trabalhou como fotógrafo para uma conceituada revista. Alí surgia um novo olhar e uma admirada forma de enquadrar a vida.

Além da estética, Kubrick sempre foi criterioso com as atuações em seus filmes. Em "O Iluminado", a atriz Shelley Duvall teve que repetir 127 vezes a mesma cena até que o diretor aprovasse. Ela pediu para que as gravações encerrassem, mas não foi atendida. Kubrick nunca foi agradável com seus atores.

Em Laranja Mecânica (1971) o mundo se chocou com a violência nua e gratuita dos "droogies". A direção refinada ganhou força com a excepcional atuação de Malcolm McDowell que ficou temporariamente cego após arranhar a córnea em uma cena em que Alex é submetido ao tratamento Ludovico. Além da cegueira, McDowell também teve as costelas quebradas e quase se afogou durante as filmagens.

Kubrick não era uma pessoa fácil de lidar. Assim como alguns outros gênios, era recluso e reservado, negando-se a dar entrevistas ou participar de eventos sociais. Além de sofrer de insônia, foi diagnosticado como portador de autismo (alteração que afeta a capacidade de comunicação). Talvez por isso, criou vários inimigos ao longo de sua vida.

Mas Kubrick era indiscutivelmente um artista. "2001: Uma Odisséia no Espaço" é um marco na história do cinema. Os truques de filmagem, os efeitos visuais, o corte temporal do roteiro e a belíssima trilha sonora são estudados até hoje em todas as escolas de cinema do mundo. Sua facilidade em transformar histórias em filme ainda é impressionante. Em todos os seus filmes é visível a grandeza e a força da direção. Seus projetos tinham foco e sua mensagem era transmitida de forma única e maestral.

Extremamente criativo e inteligente, Stanley Kubrick deixou uma obra repleta de filmes ímpares e atemporais. Lições de preciosismo estético e direção refinada não faltam: Barry Lyndon (1975) tem a mais pura técnica cinematográfica explorada. A filmagem e a montagem são clássicas e casam-se perfeitamente com a fotografia suave do filme (na época foi dito que todas as cenas foram filmadas com iluminação natural - o que gerou um grande fascínio por seu domínio técnico). Em contrapartida, Full Metal Jacket (em português "Nascido para Matar") trata da desumanização (tema recorrente em sua obra) dos soldados enviados à guerra do Vietnã. O filme foi tido por muitos como um dos melhores já feitos na década de 80 e ainda impressiona pela capacidade de gerar tensão não apenas nos momentos de ação, mas também em cenas de efeito psicológico e simbolismos explorados durante toda a trama.

Sua carreira chegou ao final em 1999 depois de dois anos de filmagens do seu último longa, "De Olhos Bem Fechados". O filme teve uma das maiores arrecadações da época, mas Kubrick faleceu repentinamente, vítima de um ataque cardíaco no dia 7 de março de 1999, não podendo acompanhar a repercussão do seu último trabalho.

Este é um dos meus diretores favoritos. Um dos mais densos e intensos mestres da sétima arte.

24/05/2010

And the winner is...

Ontem saiu a lista dos filmes premiados em Cannes! Confira alguns deles aqui:

Palma de Ouro
Lung Boonmee Raluek Chat, de Apichatpong Weerasethakul
Grande Prêmio do Júri
Des Hommes et des Dieux, de Xavier Beauvois
Prêmio do Júri
Un Homme qui Crie, de Mahamat-Saleh Haroun
Melhor direção
Mathieu Amalric, por Tournée
Melhor roteiro
Lee Chang-Dong, por Poetry
Melhor ator
Javier Bardem, por Biutiful
Elio Germano, por La Nostra Vita
Melhor atriz
Juliette Binoche, por Copie Conforme
Câmera D’Or (para cineastas estreantes)
Año Bisiesto, de Michael Rowe
Melhor curta-metragem
Chienne D’Histoire, de Serge Avédikian

21/05/2010

De Volta ao quarto 666

Em 1982, Wim Wenders reuniu, em Cannes, diversos cineastas para responder a uma pergunta: Qual o futuro do cinema?




Todas as respostas foram gravadas. Previsões negativas e otimistas foram argumentadas. Naquela época, a fita VHS era novidade e o medo da nova tecnologia gerava desconfiança e descrença. Desde então muita coisa mudou. No intúito de comentar o vídeo original e analisar a atual situação do cinema, Gustavo Spolidoro (do ousado "Ainda Orangotangos") convidou o diretor para esse curta brilhante!

20/05/2010

Pare, Pense... Fotografe.

Walter Carvalho é um fotógrafo e cineasta que todo mundo deve parar para ouvir quando tem a oportunidade. Por isso vou postar uma entrevista feita com ele esse ano, já que, como ele mesmo diz, "de nada vale o conhecimento se não for partilhado"!

19/05/2010

Melancholia

Lars Von Trier começa a filmar em julho o seu novo longa: Melancholia. Depois do pesado Anticristo, o diretor vai contar a história dos últimos dias da Terra antes de colidir com um novo planeta.

O elenco já está completo (Penelope Cruz desistiu do trabalho para atuar em "Piratas do Caribe 4"), e tem John Hurt (que já trabalhou com o diretor em Dogville) e Kirsten Dunst  - confesso que prefiro Penelope - atuando.

Eu que sou bastante fã de Lars Von Trier, já estou fazendo contagem regressíva pra estreia que está prevista pra 2011, em Cannes. Curioso que esse é um dos diretores que mais causam expectativa ao redor do mundo. Me lembro da euforia da platéia quando fui ao cinema ver Anticristo. Fiquei bastante tenso com medo de não dar conta de assistir as famosas cenas de auto-mutilação, mas fui forte e assisti tudinho! Ao longo do filme várias pessoas desistiram  e algumas ao meu lado até passaram mal (#tenso). Sinal de trabalho bem feito já que Lars Von Trier adora causar reações emocionais nos seus expectadores.

18/05/2010

ARENA

O nome dele é João Salaviza. Com apenas 26 anos já realizou 2 curtas sendo que um deles (Arena, 2009) recebeu um dos maiores prêmios do cinema, a Palma de Ouro. Nascido em Portugal, estudou cinema em Lisboa e defende que o cinema deve ser algo livre da moral. 



E foi com esse olhar sem preconceitos e julgamentos que o diretor fez história em 2009, ao estrear e ganhar o prêmio de curtametragem do ano em Cannes.


É sempre legal ver jovens que conseguem realizar obras maduras. Geralmente leva-se anos pra que a bagagem cultural e referências/experiências cinematográficas possam ser traduzidas em bons filmes. No caso de Salaviza o talento e estudo foram bem empregados desde cedo!

17/05/2010

Robin Hood



Imagina coordenar toda essa equipe? #tenso

"Robin dos Bosques de Ridley Scott" - que estreiou sexta feira por aqui - foi selecionado para abrir o Festival de Cannes - que vai do dia 12 a 23 de maio, na França.

Chico Xavier

O filme foi lançado há algum tempo, mas não deixa de ser a grande novidade do cinema brasileiro em 2010. Logo no final de semana de estréia, Chico Xavier bateu recorde de bilheteria para um filme nacional, atingido impressionantes 600 mil expectadores no país (atualmente esse número já pulou para 3 milhões e não para de subir).

Produzido pela Globo Filmes e pós produzido pela O2 filmes em parceria com a Mídia Filmes Digitais (onde eu trabalho!), o filme conta a história da vida do medium e parte de fatos registrados em um programa de televisão da época.

O roteiro, muito bem amarrado, tem nessa entrevista de Chico Xavier ao programa "Pinga fogo" a espinha dorsal do filme. A partir dela, várias histórias são contadas e assim, costura-se fatos da infância, juventude e velhice do medium.

Esse foi o primeiro longa em que trabalhei. Portanto, tenho uma quedinha por ele. Mas, mesmo se não o fosse, teria a mesma opinião: Chico Xavier é um dos melhores filmes comerciais já feitos por aqui!

16/05/2010

Os Vultos


Você já viu essa história antes: dois jovens se mudam para uma casa nova e descobrem que alí vivem também espirítos nada amigáveis. O resultado disso? Muitos gritos e tremores nas salas escuras dos cinemas!

Com esse trailer não foi diferente! Nascido de uma vontade de produzir um video de suspense com enquadramentos e movimentos de câmera típicos de um filme de terror hollywodiano, "Os Vultos" foi realizado em 2008 por apenas duas pessoas: eu e minha irmã! A trilha sonora (na verdade um mix de trilhas) dá o tom das cenas que, com uma edição rápida, contam um pouco da tentiva de comunicação dos personagens com os espíritos que assombram a casa.

Luz e sombra. Esses elementos essenciais da fotografia foram bastante explorados no trailer. Por se tratar de um suspense, foram privilegiadas as cenas com maior profundidade de campo - o que abre possibilidades pra imaginação (que em filmes de terror são bem férteis)!

O trailer abre dizendo a que veio: uma cena em plongeé a meia luz revela duas personagens sob um tabuleiro do "jogo dos espíritos" perguntando: "nós estamos sozinhos?". A resposta é imediata: "não". Daí pra frente portas se abrem misteriosamente, bonecos criam vida e sombras são vistas frequentemente pela casa. O resultado é um trailer empolgante em que pude colocar em prática várias idéias que eu tinha quando era ainda adolescente. Ao final, uma técnica clássica dos filmes hollywodianos: o susto!

Se você gostou, fique atento. Durante a semana vou postar um tutorial que ensina como transformar uma criancinha angelical num demonio assustador! Afinal de contas, é impossível fazer um terror a là Hollywood sem um bom efeito especial!

14/05/2010

Quincas Berro D´água



"O Quincas Berro D’Água é uma comédia que fala de coisas importantes, sobre preconceito, desigualdade social, mas é, antes de mais nada, uma ode à vida, retrata uma amizade tão forte e profunda que é capaz de vencer a própria morte". SÉRGIO MACHADO, diretor.

Gostou do trailer? Eu também! Então programe-se porque o filme tem estréia marcada pro dia 21 de maio! O elenco vem recheado de fortes nomes como Paulo José (como Quincas), Marieta Severo, Mariana Ximenes, Vladmir Brichta e Milton Gonçalves.

O diretor (Sérgio Machado) tem na bagagem bons trabalhos como Cidade Baixa (2005), a série Alice (da HBO), além dos roteiros de Abril Despedaçado (Walter Salles) e Madame Satã (Ainouz).

Enquanto a estréia não chega, fique de olho no twitter do filme. Estão rolando várias promoções bem interessantes!

CINE #FAIL

Hoje é sexta-feira... é dia de: CINE FAIL!

À Deriva

É exatamente assim que fiquei quando assisti esse filme (e isso não foi bom). Um roteiro que tenta ser forte mas não consegue. Logo me vem uma constatação que Godard fez lááá atrás: é possível fazer um bom filme com um ótimo roteiro e uma direção fraca, mas é impossível fazer um bom filme com um roteiro fraco e uma direção extraordinária.

O problema, acredito, foi a escolha de prioridades. Os personagens perdem força quando fazem drama demais e o filme fica fraco quando privilegia a estética e deixa de lado o conteúdo (já que se impõe como um drama familiar).

A fotografia é exagerada (praticamente uma propaganda de creme dental). As lindas paisagens, as cores super contrastantes e o ar de filme queimado não contribuem em nada pra que a história ande. Pelo contrário! Em uma clara investida de ressaltar a beleza da atriz e do cenário, o diretor incluiu várias cenas de Filipa percorrendo o caminho entre sua casa e a casa da amante do seu pai. Assim, o filme torna-se repetitivo e ganha gorduras na tentativa de impressionar pela fotografia.

No final, uma cena descolada do roteiro ganha destaque: um acidente na estrada. Será que essa é a melhor forma de demonstrar a preocupação de Matias com Ângela? Ou mais uma tentativa fraca de causar suspense e prender a platéia ao filme?

Enfim, À Deriva tem o mérito de ser filmado com uma beleza estética destacável no cenário nacional, além de uma bela trilha sonora e boas atuações de Debora Bloch e Vincent Cassel. Mas ainda está longe de ser considerado um bom filme.


À Deriva
titulo original: (À Deriva)
lançamento: 2009 (Brasil) (EUA)
direção: Heitor Dhalia
atores: Vincent Cassel, Camilla Belle, Débora Bloch, Laura Neiva, Max Huzar
duração: 97 min
gênero: Drama
aderivafilme.com.br

CORRE!


Ainda dá tempo de se increver (seguindo o padrão linguístico do banner no site) no Festival de Cinema de Ouro Preto! O prazo vai até o dia 21 de maio. O Festival já está na sua 5º edição e oferece oficinas interessantes como "direção para iniciantes", "roteiro avançado", "realização em curta documental" e outras cocitas más. Eu já participei de algumas oficinas e recomendo!

Mas.... se você está cansado de ficar numa sala de aula, vale a pena dar um pulinho lá pra assistir alguns filmes! Muitos só passam em festival e ainda dão a chance de você participar de um bate papo com o diretor depois da sessão. Ficadica!

13/05/2010

Luz? Câmera? Ação!

Refletir, planejar e produzir. O conteúdo varia, mas o tema é sempre o mesmo: cinema. Livre de taxações, o blog24fps tem espaço para todos os estilos de imagem em movimento! Aqui vou trazer coisas novas ou rever aquelas já empoeiradas.

A lógica é a seguinte: boa intenção + execução pensada ou arriscada = post na certa! Análise de pré produção, produção, filmagem, pós e finalização. As temáticas avulsas e complementares também ganham espaço por aqui!

Está no ar o Blog 24 Frames por Segundo.

BORN FREE

Warning: the following video contains violent scenes that may be unsettling to some viewers.

Foi com esse aviso que o Youtube disponibilizou (em termos) o novo e violento curta clipe da MIA, Born Free. Em entrevista, o diretor Romain Gavras disse que não quis polemizar. Uhum Gavras, senta lá.

Ao longo dos longos 8:53 minutos de violência, a trama consegue destorcer até os narizes mais torcidos e não impõe final feliz (nem triste). Ponto pro Gavras que menospreza a superprodução "Telephone" (GAGA, Lady) e valoriza o conteudo ao invés da forma.

Nesse caso, astuto leitor, vou grifar minha opinião. Creio que as coisas não são tão diferentes! Lady Gaga tem como referência Andy Warhol, nasceu e se formou em Nova Iorque e já bateu recordes comerciais e de popularidade. Já MIA, londrina, dispara letras sobre guerra e traição embaladas por batidas de hip hop e até funk carioca.

O fato é que ambas lucram (e muito!) com músicas pegajosas que protestam (visualmente ou musicalmente) sobre alguma coisa: homofobia (Gaga), imperialismo norte americano (MIA) etc.. mas esse é um papo para outro blog!

No mais, vale destacar o tratamento da imagem: cores bem lavadas e desaturadas - bem coerente já que o enredo não é nada animador. A edição simples tem pontos altos como a cena em super câmera lenta do garoto assassinado. Ares de "guerra ao terror" à super produção pop!

A decisão acertadíssima de não mostrar a cantora MIA partiu do diretor que provou que o ego (do diretor) pode as vezes contribuir para um bom resultado!

Quer ver? Segure o fôlego e clique aqui.